Quando eu era criança pequena lá em Barbacena..Ops! Quando eu era criança pequena no interior do Maranhão, aconteceu que um dia, digo, uma noite, fui à casa da minha avó, como fazia sempre, pois lhe fazia companhia, dormindo lá, desde que ela ficou sozinha.
Como era bem perto da minha casa, fui adiando a ida, e escureceu; quando lembrei, saí apressando o passo, em parte pelo adiantado da hora, em parte porque o escuro das ruas sem iluminação pública ainda me davam um certo desconforto naquele momento. (ou os postes estavam com as lâmpadas queimadas, nem sei).
O fato é que era época de chuva, o inverno estava bom, e o caminho era um trecho entre ladeiras, um baixo, onde havia bastante lama. Lá vou eu quase correndo, coração na goela, eis que minha "havaiana", uma apenas, fica dentro do atoleiro; quando dei a passada, o pé saiu limpo, digo, sem chinelo. Parei, tateando com o pé, depois com a própria mão na lama, buscando o chinelo perdido, e nada.
De repente, me vi sozinha, no escuro, procurando algo no meio do lamaçal que parecia gigante para minhas proporções de uma menina magricela de sete anos (por aí), cada pisada afundava mais de palmo no lameiro.
E aí de mim que não sairia dali sem, pois toda vez que o chinelo quebrava, meu pai consertava com agulha e linha grossa e durava meses, imagina um ainda inteiro. Sem desculpas, teria que resgatá-lo.
Depois de alguns minutos procurando sem sucesso, um choro já se aproximando; pra minha surpresa total, pelo adiantado da hora, e a probabilidade mínima de que alguém ainda circulava acordado naquele lugar; surge um homem perguntando o que acontecia; contei e ele iluminou o local, não sei se era uma lanterna que trazia; tentei olhar seu rosto, reconhecer, mas a escuridão não deixava, só enxerguei um circulo de luz sobre o chão; encontrei meu chinelinho querido, pus no pé e disparei rumo à casa da minha avó, sã e salva e devidamente calçada.
Fiquei muito tempo, e até hoje quando lembro, tentando descobrir de quem era aquela voz, quem era aquela pessoa, já que num vilarejo em que todos se conhecem por nome, sobrenome e histórico familiar etc e tal, reconhecer alguém pela voz, é muito simples, natural. Mas não consegui. Àquela hora também, já não era comum passar gente rumo a algum lugar, que não fosse da sala pro quarto de dormir, dentro da própria casa.
Analisadas todas essas probabilidades; cheguei, do alto da minha inocência infantil, à conclusão de que se tratava de um anjo enviado pelo próprio Deus, para me ajudar. Inclusive era esse o relato que fazia a todos, quando contava esse episódio.
Desse dia em diante passei a acreditar e não só isso, a ter provas da existência de anjos, ou pessoas-anjo como eu gosto de dizer. E em diversas outras situações pude comprovar e identificá-las claramente. Pessoas que surgiam do nada, numa situação difícil e literalmente me "salvavam". E até hoje, embora esteja perdendo essa capacidade de percebê-los, sei que estão por aí, por aqui, muito próximo, me ajudando, protegendo e trazendo segurança e paz.
Hoje foi mais um dia desses, não tão simbólico, mas igualmente importante. Eu acredito!
Obrigada Senhor, por me guardar de todo o mal.
Amém!