Fui fazer um exame cardiológico no ano de dois mil e nove, nem me lembro por quais motivos, e o médico me disse que eu tinha "um coração peculiar". Depois que ele disse que não era doença e que eu não me preocupasse, eu gostei. Ter um coração peculiar, me explica muitas coisas. Deve ser por isso, que meu coração não segue as regras comuns a todos os outros corações. Não é tão romântico, tão exagerado quanto muitos, não é indiferente como vários outros, não extravasa o sentimento. Esse coração peculiar se retrai, às vezes tenta ser espalhafatoso, e falha. E de novo se intimida e bate tão intensamente mas tão disfarçadamente que só eu sinto, por ser peculiar. Agora tenho uma justificativa para esse embaraço, para esse desalinho. São as artérias invertidas...ou algo assim, não lembro. Esse jeito de sentir e amar próprio, típico, destrambelhado tem razão. Deve ser isto: razão demais. Penso em voltar lá para perguntar, mesmo que não seja nada grave: Há algo que o conserte?
sábado, 28 de maio de 2016
Rememorar
Gosto dessa palavra, gosto dessa idéia. Rememorar. Trazer de volta à memória, lembrar novamente, sentir outra vez. Revisitando meu blog antigo, o primeiro; relendo o que eu escrevi e o que me escreveram nos comentários, algumas coisas me voltam à mente e ao coração. Me revigoro com o carinho das mensagens deixadas por pessoas que me leram naquele momento, se identificaram, gostaram, interpretaram à sua forma, às vezes, coincidindo a emoção da escrita com a emoção da leitura. A maioria não sei mais onde está ou encontrar nessa web, onde as redes sociais se reinventam e obsoletam-se tão rapidamente, ou nem tanto assim. Outros permanecem como amigos virtuais e o vínculo se mantém. Está sendo necessário voltar, me re-conhecer, não em tudo. A ideia de voltar ao passado e me agarrar a ele não me agrada, mas retomar um lirismo, trazer de volta um sentimento de poesia que eu tinha, buscar aquele olhar admirado para algumas coisas simples que passavam diante de mim e mudavam o meu dia, e me faziam me sentir alguém melhor, me faziam ter esperança na vida, nas pessoas. Quero resgatar o tempo da delicadeza nas horas dos meus dias, quero escrever sobre estas coisas, que sei ainda estão ao meu redor, acontecendo, podem ser sentidas e vistas. Eu quero aprender a olhar de novo, enxergar beleza no cotidiano.
quarta-feira, 25 de maio de 2016
página um
Outro dia ao ouvir a opinião de alguém que deu uma olhadela no meu primeiro blog, soube que eu era muito melancólica, não sei se esse foi o adjetivo, mas a ideia principal era essa. Hoje eu mesma relendo mais uma vez algumas destas coisas que escrevi, não só percebo esse traço como sinto novamente algumas dessas densas emoções que motivaram um texto ou outro. Foi importante escrever, registrar, expressar um pouco dessa tristeza que permeia o texto agora e que de alguma forma residiu ou reside em mim de alguma forma, apesar da bandeira da alegria que sempre empunho sorridente. Talvez seja necessário assumir essa parte que me cabe dessa dor de existir, que não entendo bem.
Dia desses aconselhei uma amiga a escrever sobre uma experiência e uma fase da vida que muito lhe emocionava. Agora entendo que o conselho talvez fosse pra mim. Retomar esse exercício que me fez tão bem por um tempo, embora não disciplinado. Acredito que ainda há o que extravasar por essas vias, pelas pontas dos dedos, sílaba a sílaba, até que não haja mais o que ser dito, ou quem sabe seja um começo de um novo modo de falar. Decidi escrever um livro. Agora. Um dia anotei um nome que eu pudesse usar num livro que algum dia escrevesse inspirado num filme que vi: O lado bem da vida. Me agrada o conjunto das palavras, a sonoridade, a possibilidade de rearranjá-las. Talvez o título não seja esse, talvez nem seja um livro, talvez ninguém leia, mas eu já comecei.
Porque preciso escrever para mim.