quarta-feira, 1 de maio de 2013

pateticando

Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
Expulsar de mim essa nossa senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.
Ausência de espelhos que dissolve a falta,
A fraqueza, a preguiça.
E me faz vento, pedra, desembocadorua, abotoadura e silêncio.
Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,
Onde tudo é grave e único.
E me mantive quieta e muda.
E mais do que nunca tive inveja.
Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta
Nem pensa essas coisas.
(...)
Escorro entre palavras como quem navega um barco sem remo.
Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.
Clarice diz que sua função é cuidar do mundo.
E eu que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,
Não tenho bons modos nem berço.
Escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.
O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?

 Viviane Mosé in Prosa patética (na íntegra aqui)

2 comentários:

Milene disse...

Muito bom. Senti tudo isso hoje, e me encontrei aqui.Entrei no link. Beijo Ana!!

Ana Aitak disse...

Bju. Obrigada pela visita, Milene :)

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