terça-feira, 28 de maio de 2013

vida, vidra

Não sei, só sei que foi assim. Uma menina que nasceu de vidro, não de cacos; de vidro, fininho, delicado, transparente e cortante também, natural. Daí que por ser muito fino e translúcido, as pessoas nem sempre a enxergavam, ou enxergavam outras coisa através dela; mas ela mesma, não. Não viam. E de tantos não verem, batiam de frente, trombavam sem querer, trincavam, quebravam-na e doía. Não se sabe como; doía na menina, e em quem nela esbarrava, também. E ficavam marcas, vincos, naquele vidro, e em quase toda vez que se quebrava, aquela cicatriz, por que não? Não cicatrizava porque era vidro, mas tirava um pouco da sua transparência e da sua beleza vitral também.
Pra evitar mais disso, a menina de vidro se encheu de cores, texturas, objetos e até gente que mostrasse, que existia ali, alguém. E quando se enchia de algo colorido, o vidro claro coloria-se também, e aparecia. Mas nem sempre. Nem sempre queria ser percebida por estratégias, às vezes só um pouco mais de atenção resolveria, mas nem sempre. Nem sempre alguém de vidro, se integra totalmente entre gente de carne e osso, e aço, e farpas, natural. Mas deve haver um lugar, deve haver mais alguém, de vidro também, para entender suas semelhanças e suas estranhezas.
 
Não sei, só sei que assim é.  Quem é de vidro só sabe de como é se quebrar. De se cortar, sabe quem é de carne e osso, e essa menina não é.

4 comentários:

Milene disse...

Muito bom. Penso que muitas vezes fui de vidro. Saudade de passar aqui. Beijo Ana!!

Ana Aitak disse...

Passe sempre que quiser. :)

Unknown disse...

Essa menina se parece comigo, com meus sentimentos de quando era criança...

Ana Aitak disse...

Essa menina parece comigo hoje em dia, estranho :P

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