quarta-feira, 6 de novembro de 2013

crônica do fim do ano

"Só quero chegar em casa". Não é apenas uma referência a um lugar, não é apenas chegar a um ponto, geograficamente falando, é chegar a um estado, também não geográfico, mas de espírito.
É a partir do momento em que se calça as havaianas que ficaram ao pé da porta, entrar dentro do seu próprio mundo. É chegar ao que te acolhe, ao que é familiar e por isso amoroso.
É apagar a luz do quarto que se esqueceu acesa na correria da saída, lavar as mãos e o rosto como quem lava algo precioso, ou tomar um banho como quem lava a alma. É fazer um cafezinho da hora e achar o biscoito com manteiga a combinação perfeita, porque não se teve tempo de ir ao mercado pra achar a fruteira cheia ao chegar ou o iogurte preferido na geladeira.
É ligar o rádio enquanto faz pequenos afazeres pra ir se desligando de tudo que se viu ou se ouviu durante o longo dia de trabalho, porque o cérebro não quer lembrar nada, só esquecer de que somos frágeis e o mundo, às vezes, é imenso e pesado; ou talvez ligar a tv e ver e ouvir uma profusão de imagens e sons, ininteligíveis no momento, mas que  vão nos desligando um pouco da realidade, por que não?
É deitar no sofá olhando a estante cheia de livros que ainda não leu, ser flertado pelo livro do Desassossego de Fernando Pessoa e achar que ele entende que agora não há condições de lhe dar ouvidos e muito menos olhos e atenção, pois o corpo quer sossegar apenas e a mente mais ainda. Que a leitura vai ficar novamente, pra outra hora.
É se carregar no colo, fazer um cafuné ao mexer nos cabelos e se espreguiçar sem vontade de nada a não ser permanecer quieto, meio acordado meio dormindo, porque o corpo todo te diz que felicidade é apenas o tempo de um cochilo no fim do dia, ao chegar em casa.

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