quinta-feira, 28 de novembro de 2013

todas as dores

Outro dia num programa de tv, a sábia Regina Navarro disse sobre o sofrimento (ou tema semelhante) nos relacionamentos humanos, algo do tipo: nossa dor nunca é apenas a de agora, mas todas as que já vivenciamos um dia vêm junto com ela. Sofremos a cada nova decepção, todas as outras anteriores de um vez só. Então, que ninguém duvide do quanto alguém tem que ser hercúleo pra suportar um simples desdém, de quem se quer bem ou do quanto podemos fazer sofrer por nossa insensibilidade.
 
Sempre é tempo de deixarmos o melhor de nós nas lembranças de alguém.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

linguagens

Eu que corro atrás das palavras, mesmo tentando dominar mais a semântica que a sintaxe, é verdade. Ainda assim, não acredito que seja o melhor modo de dizer. Se os silêncios não fazem sentido, se os olhos não podem ser lidos, se os jeitos não mostram o não dito; não há compreensão que salve. Não há cumplicidade explícita, não adiantam os subentendidos. Não há regra gramatical e nem acordo que dê conta de falar o que só com o coração se comunica. O erro não é de oralidade é de sensibilidade. Eu só quero ser fluente em poesia, e "voar fora da asa" como disse o poeta; o resto aprende-se sempre o suficiente. Arre!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

crônica do fim do ano

"Só quero chegar em casa". Não é apenas uma referência a um lugar, não é apenas chegar a um ponto, geograficamente falando, é chegar a um estado, também não geográfico, mas de espírito.
É a partir do momento em que se calça as havaianas que ficaram ao pé da porta, entrar dentro do seu próprio mundo. É chegar ao que te acolhe, ao que é familiar e por isso amoroso.
É apagar a luz do quarto que se esqueceu acesa na correria da saída, lavar as mãos e o rosto como quem lava algo precioso, ou tomar um banho como quem lava a alma. É fazer um cafezinho da hora e achar o biscoito com manteiga a combinação perfeita, porque não se teve tempo de ir ao mercado pra achar a fruteira cheia ao chegar ou o iogurte preferido na geladeira.
É ligar o rádio enquanto faz pequenos afazeres pra ir se desligando de tudo que se viu ou se ouviu durante o longo dia de trabalho, porque o cérebro não quer lembrar nada, só esquecer de que somos frágeis e o mundo, às vezes, é imenso e pesado; ou talvez ligar a tv e ver e ouvir uma profusão de imagens e sons, ininteligíveis no momento, mas que  vão nos desligando um pouco da realidade, por que não?
É deitar no sofá olhando a estante cheia de livros que ainda não leu, ser flertado pelo livro do Desassossego de Fernando Pessoa e achar que ele entende que agora não há condições de lhe dar ouvidos e muito menos olhos e atenção, pois o corpo quer sossegar apenas e a mente mais ainda. Que a leitura vai ficar novamente, pra outra hora.
É se carregar no colo, fazer um cafuné ao mexer nos cabelos e se espreguiçar sem vontade de nada a não ser permanecer quieto, meio acordado meio dormindo, porque o corpo todo te diz que felicidade é apenas o tempo de um cochilo no fim do dia, ao chegar em casa.