terça-feira, 12 de julho de 2016

Memória de neta

Certa vez minha avó, saudosa Mãe Preta, incomodada com minha correria em arrumar sua casa - favor esse que me era retribuído sempre com um saboroso lanche de avó ou alguma guloseima- ralhou incomodada com aquela agonia:
_Se aquieta menina, para um pouco, já está bom...
Na época fiquei magoada, com o não reconhecimento da minha presteza, mesmo que cheia de segundas intenções. Depois percebi que minha avó estava num ritmo próprio, no sossego de sua casinha, da qual ela nunca abriu mão de estar, mesmo depois de ter ficado sem meu avô. O seu cantinho, o seu mundo... A velhice chegou pra mim, como minha avó estar em casa tem sido um deleite, os afazeres domésticos ( não todos), tentar um receita nova, ver um filme, ver algo na internet, folhear um livro que pretendo ler, ficar à toa...Tenho valorizado cada minuto em que posso desfrutar deste mundo que tenho construído, não de móveis ou objetos, mas de convivência comigo mesma e com as coisas que gosto, as pequenas coisas, as coisas simples que me agradam e que aprendi a respeitar como parte do que sou... Agora eu entendo minha avó, precisamos de um espaço tempo em que as preocupações, obrigações e barulhos da vida comecem e terminem sob nossa ordem...envelhecer também é bom. 

triagem

Enquanto a minha poesia não vem, vamos proseando, vamos seguindo. Alguns dizem que não se faz poemas sem dor. Discordo em parte. Às vezes, a arte é mesmo inspirada em nossa tristeza; a expressa, a escoa. Mas nem toda desilusão dá verso, dá rima; ao contrário silenciam. Resta sentir, lamentar não.