Em dois mil e oito descobri a escrita (www.ideiasdeana.blogspot.com), e passei a respirar letras, era uma necessidade, dia sim, alguns não. Mas havia frequência, era como descansar, fazia falta se eu demorava a decompor os silêncios, a desfiar pensamentos. Me fazia bem, e pasmem, algumas pessoas também entendiam com o coração aquilo que parecia tão particular.
Descobri que ser humano é comungar das mesmas dores e alegrias, é ser feliz ao nos reconhecermos uns nos outros. Um exercício tão individual que tocava o outro, era mais uma doce surpresa. Há algum tempo pausas, espaços em branco ocuparam a tela toda, nada quer se tornar palavra, e o cansaço de não me expressar daquele jeito, foi assimilado como parte dos afazeres e responsabilidades que há dois anos tem me ocupado as horas. Parece até didático, quem pouco lê (o que mais gosta) pouco escreve.
Sinto falta, sinto saudade, daquela vontade de escrever; que vinha até mesmo dentro do ônibus a caminho de casa ou na ida ao trabalho, e qualquer pedaço de papel bastava pra guardar até chegar ao computador. Agora o relógio toma conta de tudo e parece que não faz sentido parar, refletir significar algum fato do dia....E como era bom ver a poesia atravessando a faixa de pedestre de mãos dadas com a avó, e pedindo colo. Tudo parecia estar tão prenhe de lirismo, bastava um olhar e o alfabeto para de fato vir a ser lírico e poético.
Sinto que estou como disse Adélia Prado : "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". A comparação não é com a genial poetisa, mas com a falta que nos faz esse olhar de encanto para o que seria mais cotidiano e comum.
Assim, não sei a que se deve esse grande "branco", essa pausa. Não sei se Deus me tirou a poesia ou se o culpo, pela minha própria inércia. Mas sei que quero voltar a ver como Hilda Hilst : "Quero brincar, meus amigos de ver beleza nas coisas."
A escrita expande a vida de certo modo, cada registro, mesmo os que não fazem tanto sentido assim, mesmo os marcados pelos erros ortográficos, nos levam e trazem à viagens que só nós sabemos onde.
Quero trazer à tona sílaba após sílaba esses lugares, sentimentos, sensações, ideias; chamá-los à condição de textos ou arremedo de textos, não importa. Quero contar pequenas histórias, fazer poesia, dizer do vi e ouvi ou sonhei. Voltar a expressar de alguma forma aquilo que não sei dizer o que é, que não tem nome, mas dói de tanto que sinto. Amor, dor, tristeza, beleza, saudade, alegria? Não sei. Tudo isso é único e o mesmo para todos, mas todos significamos de diversos modos, e meu jeito é esse.
Espero o momento da inspiração como quem aguarda a hora de nascer...E tudo será novo, será como ver o mundo novamente pela primeira vez, tudo me encantará e escrever será meu jeito de amar.